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- 'L'amour est un je ne sais quoi, qui semblé je-ne-sais-où, et qui finit je-ne-sais-quand.
Que cor você têm? Qual é o seu sabor? Você é quadrado ou curvilíneo? Tem aroma de uva ou morango? Você é áspero ou liso? Vem de dentro ou de fora? Qual é a sua fonte?
Mademoiselle de Scudéry, primeira mulher literata da França e do mundo, acertou quando lançou a incerta afirmação de que “O amor é um não sei o que, que surge não sei de onde e acaba não sei como”.
A gente nasce, cresce, vive e morre, mas não é possível fazer nada disso sem o amor, mesmo que alguns não acreditem nisso. Nós não sabemos ao certo como defini-lo ou classificá-lo e muitas vezes ele passa tão despercebido que é preciso perdê-lo para só então reconhecer que ele estava ali a todo o tempo, mas a real é que desde os primórdios estamos fadados a senti-lo.
Os contos de fadas nos ensinam que devemos ser princesas e esperar pelo príncipe encantado, os filmes de Hollywood de que devemos correr para o aeroporto sem bagagem e apanhar o próximo vôo, as novelas nos contam que tudo termina em festa e casamento, os romances nos narram um drama nem sempre feliz e a vida ensina que em alguns momentos devemos ser racionais e nunca mergulharmos de cabeça. Mas o amor é uma formula muito maluca, instável e nada universal, cada um interpreta e segue como bem entende ou ás vezes nem entende, mas segue- e é aí que a compatibilidade se torna algo tão raro diante de um sentimento tão intangível.
Muitos tentam explicar, poucos conseguem... Mas há boatos de que essa formula é mágica e é capaz de tirar a visão de uns, fazer outros voarem, provocar borboletas na barriga de alguns, roubar pensamentos de outros de novo, é capaz até de fazer pessoas cometerem devaneios, virarem poetas, causando insônias e outros distúrbios não menos graves, pois como definira Platão em alguns de seus diálogos "Amor: uma perigosa doença mental".
A verdade é que é impossível viver sem se banhar deste frasco, porque mesmo as feridas que ele causa são gostosas de viver, pois são intensas e inapagáveis- como já dizia Camões é uma ferida que dói e não se sente. E acredite, até quando você estiver tentando fugir dele, o amor vai te pegar!
Eu, como todo ser humano, já senti, já sofri, já pensei que não ia sobreviver sem, e já sobrevivi também. Houve um tempo não muito distante que eu costumava idealizar esse sentimento, sempre acreditei nos contos de fada e sempre esperei que eu pudesse transformar minha vida em um; e digo que isso não é tão ruim, viver uma ilusão no mundo das fantasias faz parte do aprendizado. A gente quebra a cara, a gente se entrega e no fim vai valer à pena, seja por bem ou por mal. O importante é aprender e entender que nunca será a ultima vez que isso irá acontecer e que quando acontecer de novo não será necessariamente sofrível igual ou pior, poderá ser melhor, e isto faz parte do ciclo natural da vida, de fato!
Para os acéticos não existe fada madrinha, esse lance de cavalo branco já ficou ultrapassado, o celular é mais viável do que tomar um taxi à jato até o próximo saguão de aviões. Acho isso triste, mas temos que respeitar a maneira de cada um, talvez as pessoas tenham se assustado com Nietzsche e seu argumento de que"O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são." E vivam na defesa seguindo a risca o conselho do guia dos mochileiros que alerta: “AMOR, evite se possivel”.
Concordo com Nietzsche, e também com o guia dos mochileiros, mas quando a coisa se torna impossível de evitar, aí voce está perdido e “o que não tem remédio, remediado está.” Chega a hora do senhor tempo fazer seu trabalho. A sua cor não importa mais, o seu sabor é mero detalhe, a sua forma é dispensavel, o importante é estar sempre de peito aberto para então senti-lo; sentir, sentir e sentir, sentir da maneira mais verdadeira possivel. É importante também, conseguir manter esse peito aberto, mesmo com o coração doído. Porque a gente nunca sabe o que está por vir, afinal, parafraseando mais uma vez Mademoiselle: “O amor é um não sei o que, que surge não sei de onde e acaba não sei como”.