terça-feira, 16 de julho de 2013

Sou um espelho quebrado!

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Espelhei-me no conto “O espelho”, de Machado de Assis.
Onde a personagem principal, Jacobina, convivia com o medo de olhar-se no espelho. Confessava “um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois”.
Em um dos trechos do livro ele desenrola um relato à 4 cavalheiros:

“-Mas, se querem ouvir-me calado, posso contar-lhes um caso de minha vida em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há só uma alma, há duas...

-DUAS?

-Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro pra fora, outra que olha de fora pra dentro.
O oficio da segunda alma é transmitir a vida, como a primeira, as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira.”


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Nessa busca do que se é me encontrei num labirinto, labirinto esse feito de espelhos. Vi tantos rostos multifacetados que me desencontrei nesse encontro.

A verdade é que não se é o que se parece ser. E o que se é? Seria essa imagem opaca refletida no espelho? Ou seria um pouco dos fragmentos dilacerado no âmago do peito? Seria os dois alinhavados num mesmo tecido e pronto. Mas como tecer uma peça só com linhas tão diferentes?

Para mim a busca do ser é um desvelar no desvelo, delimitar as fronteiras do que se é e do que se parece ser é como procurar agulha no palheiro. Já que não se pode andar de mãos dadas com as duas almas da existência,o ser se faz por aquilo que lhe vem do outro, e nunca sozinho.

Sou um caleidoscópio de imagens, sou um pouco de cada experiência tênue que a vida fez de mim, sou um pouco de cada mergulho que dei no espelho.

Agora cada um tem em mãos um espelho, cada um tem de mim uma face de espelho, cada um vê em mim o reflexo tenso, denso e breve refletido pelo encontro de nossas almas, porém cada um tem de mim apenas um desses reflexo, e eu tenho todos, que por hora juntos tenho uma junção de fragmentos, tenho um espelho quebrado, sou um espelho quebrado.

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