
Sou do tipo que prefere a palavra escrita à palavra falada. Talvez por ser banhada por uma espécie de timidez, ou devido à tamanha insegurança que mal pode ater-se a alma. Acontece que tenho uma certa intimidade com o papel, liberdade essa que me faz poder ser o que eu quiser e bem entender, aliás, apenas “quiser”, já que entender é um verbo que não costumo proferir sem o não na frente.
Reconheço meu péssimo habito de habituar-me ao não entendimento. Quanto ao outro verbo “querer”- esse sim eu domino todos os tempos verbais. Eu poderia escrever um livro apenas com as conjugações desses verbos elucidando todas as experiências que queria ou não entendo. Esse livro teria mais de 1000 páginas e seria mais complexo que o mais complexo livro. Qual é o mais complexo livro? Boa pergunta. Não sou do tipo que lê muito. Deveria ler mais, mas confesso que a complexidade às vezes me enjoa.
Eu nunca escreveria um livro de 1000 páginas sobre verbos tão complexos, pois eu iria enjoar de mim mesma. Prefiro querer e não entender em silêncio. E se eu disser que quero me entender, você entenderia?
Por mera coincidência, acabei de ouvir no radio que para entender as coisas é preciso experimentá-las. Será que uma vida inteira de experimentos basta para tantas coisas que quero e não entendo? Se em média uma pessoa vive 70 anos, equivalente a 25.550 dias ou 614.000 horas, seria esse tempo o suficiente para tão complexo cronograma? Já perdi uma hora escrevendo, devo subtrair uma experiência? Seria menos um entendimento? Mas e se eu viver 100 anos?
Me passa pela mente um turbilhão de experiências que eu teria... Sobraria tempo para fazer as coisas rotineiras que faço e entendo todos os dias, como pentear os cabelos? E se eu quisesse sair descabelada, posso somar uma hora para mais um entendimento? E se eu experimentasse jiló varias vezes, será que eu entenderia porque não gosto do gosto?
Não quero comer jiló, então porque eu deveria entender isso? Desculpa jiloeiro, mas não sou obrigada a entender coisas que não quero. As que eu quero já me roubam a vida inteira... Logo, entendi que preciso primeiro entender o que querer. E isto já é um entendimento redundante. Seria um bom começo?
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